segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Plante um poema

Poderia permitir
Tudo em branco
Só um papel amassado
Como qualquer outro

Mas não me contenho
As palavras surgem
Sem motivo ou porquê
E vão decalcando a linha
Buscando sua própria rima

Surge então um nó
Um emaranhado de letras
Que às vezes levam
A lugar algum

Então as palavras seguem
E vão ganhando vida
Ignorando regras e medidas

Mesmo sem moldura ou coxia
Do verso, fez-se brotar a poesia

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

o vento, o banco e o papel

Em passos lentos, naquela estrada, sem a pressa de quem tem alguém à sua espera, caminhei sozinha até o terminal de ônibus. Já era tardezinha, a noite já assumia seu posto. Faltavam quinze minutos para a chegada do próximo ônibus. Naquela rua vazia, com suas árvores imensas havia eu, o cachorro e o mesmo banco de sempre no meio da calçada. Sentei ali, sozinha, e pensei por um infinito instante em você, num sentimento confuso, um tanto estonteado, sem início ou porquê. Talvez nem eu saiba explicar o que estava sentindo, nem o que tudo isso venha a ser, porque não existem palavras que possam decalcar aquela sensação que ainda me atordoa. Na busca insaciável de decifrar aquele momento, abri a pasta, retirei o caderno e dele arranquei a última folha.
Estava me preparando para escrever, buscando uma posição que facilitasse a falta de apoio naquele simples banco de cimento e como se não bastasse, o vento parecia brincar comigo, jogando meu cabelo por entre a caneta, que levemente tentava se deslocar a fim de escrever qualquer coisa que te trouxesse para perto, mas todo traiçoeiro o vento retirava a folha do lugar, remexia para todos os lados, jogando as flores da mangueira sobre o papel amassado, arrancando-o das minhas mãos levando-o para a estrada vazia. Desesperadamente deixei tudo jogado ali e sai correndo atrás daquele papel que girava como peão fugindo de mim. A folha deslizava entre meus dedos, feito pássaro que rejeita a gaiola, como água da chuva que cai e evapora, tudo parecia ter sido planejado por aquele vento traiçoeiro.
Cansei, desisti, apenas fiquei saboreando aquele instante, vivendo intensamente aqueles preciosos minutos, sentindo a rajada de vento que me envolvia como um abraço apertado, carregando um arrepio que lavava a minha alma, na saudade daquilo que não mais existia. Fechei os olhos e parecia que podia te tocar, eu pensei em você naquela breve passagem de tempo, só em você e nada mais. Talvez aquele vento, tão cheio de pilherias apenas queria intensificar aquele momento, torná-lo de certa forma mais real, tão menos quimérico que você.
 Não demorou muito para que eu despertasse. O ônibus chegou, cegando meus olhos com aqueles enormes faróis amarelos, quebrando o silêncio e o sereno da noite que já se anunciava. Peguei a bolsa e a pasta antes esquecidas naquele tosco banco e sem dificuldade apanhei o papel do chão, nele havia apenas uns rabiscos de cinco linhas, um graveto e uma folhinha que caíra do meu cabelo.
Caminhei até o ônibus na calma da noite como quem vaga sem rumo, olhei para a calçada e para o banco entre o crepúsculo, ali você ficou e eu voltei para o meu mundo.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

15:43

Tempo
Tempo
Vaga
Lento

Não passa
Arrasta
Segundos
Não corre

Tudo lento
Contratempo
Ponteiros
Parados
A repousar

Não se avexe
Não se apresse

Hoje não há hora
Nem há mais lugar

Porque agora,
O tempo parou
E foi descansar...

sábado, 14 de julho de 2012

Dissonância

Cores
Suspirando
Desmaiando
Flores

Amores
Delirando
Revelando
Dores

Aurora
Forte
Que devora

Conforte
Agora
A própria sorte

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Eu:Maria

Maria se perdeu no horizonte
Se desfez do que a prendeu
No alvorecer de novos sonhos
Seguiu o rastro do seu eu

De longe a observava
Era incompreensível entender
Por que rumava para tão longe,
Se aqui ela podia viver?

Mas não existem razões               
Mudamos mesmo sem querer
Por mais que uma parte não queira
Mais de um constitui um ser

Foram tortuosos caminhos
Que a fez descobrir
Que na vida não se é mero personagem
Do que se pretendia possuir

No seu íntimo sentia saudade
E pedia a Deus para esquecer
Ao mesmo tempo em que escrevia esta façanha
Lembrava-se do que pretendia subverter

É que parte de Maria sentiu saudade
Do seu eu que em mim se escondeu

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Não define


É fato que todos vivem a eterna busca: encontrar-se em alguém que possa preencher os espaços mais inabitáveis do coração. E esta é a pessoa idealizada para permanecer durante toda a nossa vida, que nos realize enquanto mortais, que nos traga a felicidade plena. Frustrante é quando despertamos e vemos que ao nosso redor não existem contos de fada, que aquele encontro que você esperou a vida toda não duraria toda a eternidade, são apenas frações de segundo. Num piscar e abrir dos olhos podemos ser outra pessoa, um completo estranho andando por entre a gente em tão curto espaço de tempo. Tudo é tão falho, nossa essência tão comum, que o ser mais que especial é como qualquer outra pessoa: repleta de erros e defeitos(Bingo!). Essa busca do ser realizado é tão medíocre quando se tem um coração insaciável, não sei quem disse que ele deveria bater involuntariamente, vai ver que é por isso que vive tão cheio de si. Já me cansa tentar entender todo este nó, para que tudo isso? Para que toda esta idealização em cima do que não tem forma, nem espaço, nem tempo?  O que deveria ser mágico, permanece tão mecânico. É tudo tão igual, repetitivo, démodé. Talvez, quando o corpo conseguir falar a linguagem da alma em essência, o sentido desta busca se torne mais compreensível. Até lá eu espero e pago pra ver.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Náufrago


Estreito caminho de rua desfeita
Por entre as pedras que escalei
Sem rumo ou quase sem destino
No mesmo vazio me recriei

Desenhei um sonho um tanto imperfeito
Das vertigens de um passado adormecido
Abracei minha saudade sem demora
E com ela flutuei para meu abrigo

Entre oceanos esvaídos
Encontrei o coração
dos velhos barcos naufragados
Nas facetas de um antigo livro
Propositalmente enterrado

Havia lembranças
Havia memórias
Havia o sonho esquecido
Na ferrugem do tempo
Que tudo apaga

O navio aos poucos se distanciava
Lá se ia,
Lá se via,
O maior de todos os adeuses

Era o doce,
Era o amargo,
Navio que viajei

Segui pela costa,
De costas pra mim,
E nem pra trás mais olhei

Ele se foi sem se despedir
E sobre seus retalhos naufraguei