quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

o vento, o banco e o papel

Em passos lentos, naquela estrada, sem a pressa de quem tem alguém à sua espera, caminhei sozinha até o terminal de ônibus. Já era tardezinha, a noite já assumia seu posto. Faltavam quinze minutos para a chegada do próximo ônibus. Naquela rua vazia, com suas árvores imensas havia eu, o cachorro e o mesmo banco de sempre no meio da calçada. Sentei ali, sozinha, e pensei por um infinito instante em você, num sentimento confuso, um tanto estonteado, sem início ou porquê. Talvez nem eu saiba explicar o que estava sentindo, nem o que tudo isso venha a ser, porque não existem palavras que possam decalcar aquela sensação que ainda me atordoa. Na busca insaciável de decifrar aquele momento, abri a pasta, retirei o caderno e dele arranquei a última folha.
Estava me preparando para escrever, buscando uma posição que facilitasse a falta de apoio naquele simples banco de cimento e como se não bastasse, o vento parecia brincar comigo, jogando meu cabelo por entre a caneta, que levemente tentava se deslocar a fim de escrever qualquer coisa que te trouxesse para perto, mas todo traiçoeiro o vento retirava a folha do lugar, remexia para todos os lados, jogando as flores da mangueira sobre o papel amassado, arrancando-o das minhas mãos levando-o para a estrada vazia. Desesperadamente deixei tudo jogado ali e sai correndo atrás daquele papel que girava como peão fugindo de mim. A folha deslizava entre meus dedos, feito pássaro que rejeita a gaiola, como água da chuva que cai e evapora, tudo parecia ter sido planejado por aquele vento traiçoeiro.
Cansei, desisti, apenas fiquei saboreando aquele instante, vivendo intensamente aqueles preciosos minutos, sentindo a rajada de vento que me envolvia como um abraço apertado, carregando um arrepio que lavava a minha alma, na saudade daquilo que não mais existia. Fechei os olhos e parecia que podia te tocar, eu pensei em você naquela breve passagem de tempo, só em você e nada mais. Talvez aquele vento, tão cheio de pilherias apenas queria intensificar aquele momento, torná-lo de certa forma mais real, tão menos quimérico que você.
 Não demorou muito para que eu despertasse. O ônibus chegou, cegando meus olhos com aqueles enormes faróis amarelos, quebrando o silêncio e o sereno da noite que já se anunciava. Peguei a bolsa e a pasta antes esquecidas naquele tosco banco e sem dificuldade apanhei o papel do chão, nele havia apenas uns rabiscos de cinco linhas, um graveto e uma folhinha que caíra do meu cabelo.
Caminhei até o ônibus na calma da noite como quem vaga sem rumo, olhei para a calçada e para o banco entre o crepúsculo, ali você ficou e eu voltei para o meu mundo.